Qualidade de equipamentos e estudos sobre atividade policial são necessários para melhorar segurança pública

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

Uma das principais necessidades que precisam ser revistas na área da segurança é a qualidade dos equipamentos usados por policiais militares. Segundo Elisandro Lotin, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e presidente da Anaspra (Associação Nacional de Praças), é preciso que as autoridades invistam financeiramente no melhor aparelhamento da polícia, mas também é necessária uma maior pesquisa sobre as necessidades dos policiais no seu dia a dia.

“Existem inúmeras pesquisas sobre segurança pública macro, ou seja, a segurança pública entendida holisticamente. Por outro lado, no que tange ao ser humano profissional de segurança e suas necessidades mais básicas, temos um ‘esquecimento’ por parte do Estado brasileiro como um todo. Um modelo de segurança pública que ignora o ser humano profissional está inevitavelmente fadado ao fracasso. É preciso condições de trabalho dignas, com equipamentos individuais e de qualidade para todos. Mas é preciso também preocupar-se com o ser humano por detrás da farda, principalmente aquele da ponta do sistema”, afirma dizendo que é preciso criar um saber da atividade policial.

De acordo com Lotin, é necessário que os policias tenham seu próprio kit de trabalho para que não tenham que dividir equipamentos com colegas. “Isso é o mínimo”, diz lembrando que também é necessário um tipo específico de carro para o policial utilizar como viatura. “Não se pode admitir que uma viatura não tenha blindagem, por exemplo”, afirma.

Além disso, ele fala também de diversos casos de polícias que tiveram problemas com armas que não dispararam quando foi necessário, ou dispararam acidentalmente. Lotin lembra que o Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a empresa que fabrica as armas dos policiais por conta de situações em que policiais atingiram um cidadão sem a intenção, ou se feriram.

Isso foi o que aconteceu com um sargento da Polícia Militar de São Paulo que não terá o nome divulgado a pedido do entrevistado. Ele afirmou à reportagem que foi ferido no ano passado depois de sua arma disparar acidentalmente em sua perna direita. “Foi uma surpresa. Na hora eu estava em uma ocorrência e com a adrenalina alta. Quando ouvi o disparo, não entendi o que tinha acontecido”, afirma o policial.

Ele afirma que ele e seus companheiros de trabalho só entenderam o que tinha acontecido quando viram a calça dele rasgada de fora a fora. “Eu falei: ‘fui baleado!’ Os policias que estavam comigo me seguraram e eles mesmos já efetuaram um depoimento dizendo que a pistola estava no meu coldre”, relata.

O PM afirma que, naquele dia, teve “a pior sensação do mundo”. Depois disso, ele recebeu atendimento médico e precisou fazer acompanhamento e fisioterapia até conseguir voltar ao trabalho. Ainda assim, ele teve algumas restrições e só conseguiu voltar para as ruas depois de quatro meses do acidente.

Mesmo se ferindo, o policial diz que teve sorte de a bala não ter atingido a parte óssea da perna e explica que nessa situação ele poderia ter ferido algum cidadão sem a intenção. “Quem acreditaria [que foi um acidente] se eu tivesse atingido outra pessoa? Eu ia ser condenado, esculachado e ninguém ia ver que teve um erro do equipamento”, desabafa.

Segundo ele, é preciso que os novos políticos eleitos protejam os policiais e que eles tenham mecanismos para que possam trabalhar com tranquilidade tanto em relação às leis, quanto nas condições dos equipamentos. “Tem que ter uma viatura com manutenção, pessoal qualificado, equipamento de primeiro mundo… eu não posso trabalhar com uma arma que eu saia inseguro”, afirma.

De acordo com o presidente da Anaspra, é preciso que o Estado brasileiro se preocupe com as condições de trabalho dos policiais militares para que, assim, possamos melhorar toda a estrutura da segurança pública de uma forma geral.

“Se o policial não tiver um kit, uma viatura decente, se não tiver uma preocupação com sua saúde física e mental, não adianta nada ficar discutindo segurança pública. Tem um ser humano policial militar lá na ponta”, diz.

Fonte: Yahoo Notícias